terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Irracional



Existem algumas tecnologias que minha capacidade de processamento mental não consegue alcançar o entendimento. Esses dias me deparei com um teclado e mouse de computador que não tem fios, não entendo. Não entendo mesmo...Sei que eles funcionam assim como o telefone sem fio, como o celular, mas isso não muda o fato de ser estranhamente incompreensível. Alguém no Japão pega um aparelho e fala com você no Brasil, as vezes mais inteligível que se estivesse ao seu lado, sussurrando no seu ouvido.
E assim acontece quando vc está distante de alguém que vc ama. Não há um fio, uma ligação física, nada que explique concretamente o que acontece, mas vc está ligada àquela pessoa "sem estímulo" algum. 
Você não  vê, mas a calçada mal-feita da rua te lembra o dia que vocês se conheceram e seu salto quebrou na rua. Você não  ouve, mas é como se a voz da pessoa estivesse plenamente gravada no seu coração, na sua alma...Algo acontece e vc pensa: "Se estivesse aqui ele(a) falaria isso ou reagiria de tal forma, certeza!".
E ainda mais difícil de entender é o fato de a distância aproximar os que estavam longe, mas do lado um do outro. A distância junta o que é pra ser aproximado, separa o que é pra ser discriminado, esmaga seu coração no sentido de pensar que irracionalmente existe uma onda não-sei-da-onde que liga sua voz a da pessoa, seu pensamento e suas ações.
Mas assim nós vivemos sem entender...Usamos o teclado sem fio, o mouse sem fio, a televisão que mostra imagem de uma pessoa do outro lado do mundo ao vivo , em tempo real, o celular que traz a voz de alguem instantaneamente, como se ela não tivesse partido...É tudo muito difícil de entender se você parar pra pensar.
Somos seres racionais e vivemos do entendimento, mas devemos nos deparar com o fato de que nem tudo nessa vida é pra ser entendido, isso não é nada fácil. 
Estar distante é lidar com a irracionalidade de não ter alguém com você e ter ao mesmo tempo, da voz da pessoa estar em seus pessamentos, e até sentir seu cheiro mesmo ela estando a quilômetros de distância de vc. Estar distante é tentar não entender certas coisas, é perceber-se irracional.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Descansar em Deus


Essa semana o cachorro de uma amiga muito amada internou com anemia profunda. Ela, sua mãe e eu ficamos tristes  e preocupadas. Elas muito mais por ver o pobre coitado recebendo soro na veia e fazendo carinha de sem dono. Minha amiga me contou que quando ela foi visitá-lo, ele a esnobou como se ele nao a reconhecesse.
Daí fiquei pensando o que deve ter acontecido, talvez uma sensação de abandono total... E imaginei que o mínimo que deve ter acontecido quando viu minha amiga é que aquela não podia ser a dona dele, por que a dona dele cuida, e não é aquela que deixa dar injeção e nem o deixa a noite toda sozinho.
Mas o cachorrinho recebeu alta e isso foi motivo de muita felicidade pra elas e pra mim, mas quando minha amiga foi buscá-lo, ele a tratou como se não a reconhecesse novamente, frio como uma pedra. Mas quando ele chegou em casa, quando reconheceu seu ambiente, viu seu jardim, sua cama, seu local, ele voltou ao normal, todo serelepe. O que me faz pensar que foi como se ele visse que aqueles são seus donos, por que ele voltou pra casa que cuida e que alimenta e o ama.
Com esse acontecimento fiz um paralelo de como nos relacionamos com Deus nas nossas dificuldades. Às vezes passamos por dificuldades tão fortes, e também por não conseguirmos entender o processo do motivo daquela dificuldade pra Deus, nos sentimos abandonados, rejeitados e mal-tratados pelo nosso Dono.
E ficamos tão feridos que quando temos qualquer contato com Deus, não o reconhecemos por acreditar que Ele, por ser nosso Pai, nosso Criador  e Cuidador, não nos deixaria nessa situação. Ficamos frios diante Dele, e não é por maldade, é por que realmente  naquele momento não conseguimos O reconhecer de verdade.
Nós, como na situação do cachorrinho internado, não  conseguimos ver que aquele sofrimento vem pra curar, pra sarar, e que não vem como castigo, mas vem na sabedoria do nosso Dono que sabe o que faz por nós. Quando voltamos a Sua casa, ou seja, quando voltamos a estar com Deus, então O reconhecemos em sua benignidade, lembramos o quão bom bom é acreditar Nele mesmo quando tudo parece um castigo.
E Deus, assim como a mãe da minha amiga ficou, chora lágrimas de tristeza por nos ver frios na presença Dele,  e anseia mais que tudo que nós voltemos pra casa pra que possamos reconhecê-lo como o Bom Deus que Ele é e suas boas intenções. E quando voltamos pra sua casa a Sua tristeza se finda e somos recebidos com imensa felicidade, como se nunca tivéssemos deixado de reconhecê-lO um dia.
Que possamos estar abertos a Deus nas nossas dificuldades, que não fiquemos frios com Deus, sentindo-nos desamparados por Ele, que tenhamos a certeza de Ele sabe o que faz e tudo que faz é pra o nosso bem. Que descansemos Nele e que vejamos o contato com Deus nas dificuldades como uma benção e um suporte para voltarmos pra casa.
Mariella
27/09/11

terça-feira, 10 de maio de 2011

BUSCANDO NOVOS CAMINHOS

Um dia estávamos eu e você andando de carro, e como de costume, você fez um caminho diferente do normal para chegar em casa. Ao invés de passar pelo caminho que todas as pessoas passam, você fez outro cheio de atalhos e ruazinhas estreitas.
Eu, perdida, perguntei onde você estava indo. Você, com calma e sabedoria, disse que só estava voltando pra casa me dizendo, sem saber, um dos maiores ensinamentos que você já me passou nessa vida.
Você me disse: - Você tem que conhecer outros caminhos, senão um dia você pode se perder ao lado da sua casa.
Nesse sentido, percebi que é preciso sempre procurar conhecer outros caminhos. Buscar novos caminhos nunca é fácil, pois há grande chance de se perder e também é sempre difícil encarar o novo.
Busca-se novos caminhos de várias formas, dentre elas pensando diferente, vendo a vida por outro ângulo, buscando conhecimento e crescimento, conhecendo lugares diferentes, vendo a vida de cada um sobre a ótica dele e não a sua, buscando outros caminhos que levem a Deus, entre outros.
É verdade que se a gente não busca outros caminhos, acabamos assim por nos perder pertinho da nossa casa. Não nos reconhecemos como pessoas, não sabemos nada sobre nós mesmos, não entendemos as pessoas e nem o sentido da vida, não conhecemos nada além do que já é conhecido...Ficamos perdidos em frente ao único lugar que conhecemos pelo medo de arriscar, e assim só resta em nós o vazio.
Esse foi um dos legados que você me passou, mãe, não só pelo dito, mas por suas atitudes. Você sempre busca novos caminhos, isso é lindo e tido por mim como exemplo a seguir.
Estou vivendo uma fase de busca de novos caminhos, e essa busca me afastou fisicamente de você. Mas sei que só estou nessa busca por outro caminho por que alguém me ensinou, e esse alguém é você.
Obrigada por você se esforçar tanto por nós, eu sei do seu esforço e quero te agradecer por isso tudo. Agradeço a Deus por você ser minha mãe.
Feliz dia das mães !
Te amo !

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Avô

Anápolis, 11 de agosto de 2010







Você está marcado na minha memória como a mais doce e inocente lembrança que poderei ter.
Me lembro de você cantar para mim na copa enquanto minha avó cozinhava :
"Havia uma barata na careca da vovó, assim que ela me viu, bateu asas e vuó!"
E eu dizia rindo:
"Não é na careca da vovó, e na careca do vovô!E não é vuó que fala, é voou!"
Minha avó da cozinha dizia que não era na dela pois ela não era careca, era na careca do vovô mesmo!
Essa discussão durava horas, e sempre se repetia.E a gente morria de rir e adorava!
Na brincadeira de telefone sem fio que acontecia no Natal, era o meu avô que mudava totalmente a frase para a brincadeira ficar mais divertida.
Eu me sentia muito importante quando entrava na casa do meu avô, subia as escadas encaracoladas, virava a esquerda e via ele, no fundo do corredor, sentado na poltrona lendo- com a ajuda de seus óculos e sua lupa- sobre uma mesa que nela haviam fotos de parentes, e entre elas havia uma foto minha.
Me sentia ainda mais importante quando ele via alguma roupa minha ou um sapato meu e elogiava me perguntando se eu emprestaria para ele dar uma volta.
Ficava impressionada com a sua habilidade em descascar a laranja inteira, sem parar  nem um pouco até que terminasse, sem arrebentar uma tira sequer da casca, e também descascava a mexerica e separava seus gomos para colocar na geladeira.
Adorava vê-lo dobrando os sacos plásticos bem pequenininhos.Amava o cozido que ele fazia. Me enchia de alegria quando ele comia o pão e usava o miolo para fazer cavalinhos para me dar!
Me sentia a pessoa mais realizada quando ele ria quando eu brincava fazendo biquinho e meu lábio superior encostava no nariz. Ele pedia que eu fizesse de novo, e ria dizendo que minha boca fazia o formato de uma flor.
Era muito bom ouvir ele brincar : "Nossa, mas essa chuva está molhada mesmo, heim?". Falava numa seriedade como se fosse novidade. 
Uma vez disse que achava uma sacanagem fazerem muros tão altos como os da casa dele, pois assim não dava chance pro pobre coitado do ladrão fazer o serviço dele!

Além de tudo isso que sempre ficará guardado em mim, vai ficar guardada a sua imagem lúcida fazendo a barba, a sua imagem forte acordando cedo pra ir ao centro da cidade, a sua imagem doce de avô atencioso, a sua imagem humilde de alguém que não se deixa levar por elogios, sua imagem intelectual que não excluiu o prazer da vida.
Acima de tudo, vou me lembrar para sempre da sua sabedoria. Da sua naturalidade e tranquilidade em viver. Você foi e sempre será um exemplo de pessoa para todos nós, e estará guardado sempre em mim.
No dicionário o significado de avô deveria ser Jarbas de Oliveira.


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Meu Pé de Goiaba

Anápolis-GO, 10 de agosto de 2010




Era uma tarde ensolarada de domingo. Eu estava nos fundos da casa de meus avós deitada na beira de piscina, olhando o céu azul e passando uma das mãos sobre água da piscina. 
Eu passava a mão simplesmente por cima da água, acariciando-a, assim como alguém que acaricia um pêssego.
Em tudo ali havia paz, não havia música, nenhum som, somente o sussurro de Deus aos meus ouvidos que, de mãos dadas comigo dizia calmamente ao sol para aquecer um pouco mais, e hora ou outra para o vento passar pelo meu rosto e mexer nos meus cabelos.
Foi quando ouvi meu pai me chamar. Ele me convidou a  ajudá-lo a colher algumas goiabas ali no pé.Me deu uma sacola de plástico e eu fiquei com outra. E olhando de baixo parecia impossível colher uma fruta sequer.
Eu olhava e tentava achar uma goiaba  que eu pudesse alcançar, mas as que eu achava estavam podres ou com bichinhos de goiaba.
Meu pai com sua sabedoria usava um pedaço de pau  para conseguir achar lá no topo da árvore goiabas boas para pegar. Ele sacudia as vezes alguns galhos, mas no final conseguia pegar as goiabas boas.
Diante da minha pequena angústia meu pai disse :
"Minha filha, a vida da gente é assim como um pé de goiaba. Olhando por baixo parece que está tudo errado, que é tudo muito difícil e complicado de ser resolvido, que está tudo perdido.
Basta então olhar com mais calma, ver as coisas por outro ângulo e ser perseverante, e então você percebe o quanto a vida é bela."
Isso fazia todo sentido em meu coração.
E Deus olhando sentado do lado da piscina sorria feliz, pois sabia que mais um de seus filhos acabava de ser achado.